O Islam é mal Compreendido

O Islam é Mal Entendido1

Nós devemos rever nossa compreensão do Islam. Como muçulmanos, devemos perguntar a nós mesmos por que, nesse mundo, outros avançam e nós retrocedemos?

Tomando o Alcorão e a Sunna como nossas principais fontes e respeitando as grandes pessoas do passado, cônscios de que somos crianças no tempo, devemos questionar o passado e o presente. Estou procurando por trabalhadores do pensamento e pesquisadores para estabelecer o equilíbrio necessário entre os aspectos mutáveis e imutáveis do Islam e, considerando cada regra jurisprudencial como revogação, particularização, generalização e restrição, podem estar presentes na compreensão moderna do Islam.

Os cinco primeiros séculos do Islam foram períodos em que existiam muitos pesquisadores e acadêmicos. Durante esse período houve uma grande liberdade de pensamento. Somente nessa atmosfera grandes acadêmicos e pensadores podem ter surgido.

NÃO HÁ DOGMATISMO NO ISLAM2

Q: Qual a atitude do Islam quanto ao Dogmatismo?

A: Se d ogmatismo significa aceitar ou copiar alguma coisa cegamente, sem deixar espaço para o pensamento livre e a utilização das faculdades mentais, não há dogmatismo no Islam. Especialmente sob a concepção de religião que foi desenvolvida no Ocidente, o conhecer e o acreditar são consideradas coisas diferentes. No Islam, no entanto, complementam um ao outro. O Alcorão insiste que cada um use suas faculdades mentais (por exemplo, pensamento,  razão, reflexão, ponderação, crítica, avaliação, etc.).

Q: E quanto aos versículos alcorânicos que são decisivos no Direito Canônico?

A: Há fixos e imutáveis aspectos da criação e da vida. Como as “Leis da Natureza” nunca mudam, os aspectos essenciais da humanidade (por exemplo, natureza, necessidades básicas, sentimentos e assim por diante) nunca mudam, uma religião que se dirige à humanidade tem que ter princípios imutáveis e valores perenes. Além disso, essas normas morais como confiança,  castidade, honestidade,  respeito pelos mais velhos (especialmente os p ais), compaixão, amor, e ajuda são sempre valores universalmente aceitos. No entanto, abster-se do álcool, jogo, adultério e fornicação, roubo, fraude, injustiças são também formas de tornar a vida universalmente aceita. Aceitar e considerar esses valores enquanto legislação não é  dogmatismo.

No entanto, como em outras religiões, o Islam tem experimentado algumas atitudes dogmáticas. Por exemplo, o Zahirismo começou no califado de ‘Ali, como resultado do extremismo Kharijita.

Eles aceitaram apenas os significados externos dos versículos, e se recusaram a considerar as regras básicas como revogação, particularização, e generalização. No início, não se tornou uma  escola de pensamento. Contudo, pessoas como Daoud az Záhiri e Ibn al-Hazm estabeleceram esse sistema em  Andaluzia e publicaram livros sobre isso. Mais tarde, essa escola passou para as mãos de algumas pessoas influentes como Ibn Taimiya, e influenciou cada estudioso como Ibn al-Qayim al-Jawziya, Imam Zahabi, e Ibn Kacir. Posteriormente deu origem para o wahabismo. No entanto, essas pessoas têm sempre representado apenas uma pequena minoria.

ISLAM, TEOCRACIA, E TIRANIA3

Q: No Islam, há  despotismo ou  teocracia como os meios de comunicação afirmam?

A: Algumas pessoas, apenas aquelas que usam tudo para o mal, podem explorar o Islam e usar a religião para regras déspotas. Mas isso não significa que o Islam tem aspectos déspotas. Eu penso que essa alegação é devida à falta da compreensão do assunto corretamente. O Islam nada tem a ver com t eocracia, que é, em um aspecto, um sistema de governo diante da interpretação dos padres da igreja. No Islam não há hierarquia clerical oficial, nem um sistema clerical.

FUNDAMENTALISMO4

Fundamentalismo significa fanatismo e aderência dogmática a uma crença. Isto nada tem a ver com o Islam, embora algumas pessoas atribuam aos iranianos e sauditas movimentos fundamentalistas. Mas não significa que o Islam prevê o fundamentalismo. As versões dos iranianos e dos sauditas são particulares deles decorrentes da crença seguida por cada um. A maior parte dos muçulmanos não aceita isso tampouco. É um erro considerar o Islam fundamentalista ou os muçulmanos fundamentalistas. O assunto está travado em confusões conceituais. Precisa primeiro ser esclarecido.

AS MULHERES E OS SEUS DIREITOS5

Q: Que você pensa a  respeito dos  direitos das  mulheres?

A: Este é um assunto muito abrangente. De uma perspectiva está aberto ao debate. É muito difícil resumir meus pensamentos nessa espécie de plataforma.  Em um sentido, não separamos homens e mulheres. Em outro, eles têm diferenças físicas e biológicas. Na minha opinião, homens e mulheres devem ser como as duas faces da v erdade, como os dois lados da moeda. Homem sem mulher, ou mulher sem homem, não pode ser; eles foram criados juntos. Mesmo o Céu é um Paraíso real quando eles estão juntos. Por isso que Adão permaneceu lá com sua companheira. Homem e mulher completam-se um ao outro. Nosso Profeta, o  Alcorão, e os ensinamentos alcorânicos não consideram homens e mulheres como criaturas separadas. Eu penso que o problema aqui é as pessoas abordarem os extremos e perturbarem o equilíbrio.

Q: Existem exemplos para o papel feminino?

A: Na atmosfera da sociedade muçulmana onde o Islam não está “contaminado” com costumes ou tradições não muçulmanas, as mulheres muçulmanas têm uma participação plena na vida diária. Por exemplo, durante o período mais antigo do Islam, Aicha (radiallahu ‘anha), a esposa do Profeta, conduziu um exército. Ela também foi uma mestra cuja opinião todos respeitavam. Mulheres rezavam na mesquita junto com os homens. Uma anciã podia se opor ao Califa na mesquita em um assunto jurídico. Mesmo no período otomano durante o século XVIII, a esposa de um embaixador inglês elogiou as mulheres muçulmanas e seus papéis na  família e na  sociedade com admiração.6

INDIVÍDUOS E DIREITOS HUMANOS INDIVIDUAIS7

Não devemos sentir medo ou ansiedade quanto aos indivíduos, seus desenvolvimentos, ou suas motivações sobre outros indivíduos, pois o Alcorão vê cada indivíduo como um tipo em comparação com outros indivíduos. O importante é a fonte de pensamentos e das emoções que eles nutrem. Quando os indivíduos atingem certa maneira de pensar e compreender e chegar a um determinado horizonte, vão compreender o que é necessário para viver em sociedade. Pessoas desenvolvidas vão sentir a necessidade de estar com outras, compreendendo que não devem estar sozinhos, e que não devem prejudicar outros membros da sociedade.

Indivíduos assim educados, que não usam seus d ireitos e  liberdade para prejudicar os outros, mas têm c onsciência de preferir os interesses dos outros sobre seus próprios, devem ter permissão para se desenvolverem individualmente. De outra forma, haverá constante julgamento e condenação, opressão e oprimidos, crueldade e vítimas de crueldade. Esta é a dimensão do quadro trágico na Turquia hoje.

HUMANISMO8

Q: Qual é a perspectiva do Islam quanto ao  humanismo?

A: O amor é hoje um dos assuntos mais discutidos e uma das questões mais necessárias. Realmente, o amor é uma rosa em nossa crença e um reino em nosso c oração que nunca se apaga. Antes de tudo, Allah teceu o universo como rendas no tear do amor, no seio da existência, o amor é sempre a música mais mágica e encantadora. A relação mais forte entre os indivíduos na f amília,  sociedade e nação é a do amor. O amor universal se mostra em toda a existência do cosmos e suporta cada partícula.

Isto é tão v erdade que o maior fator dominante na  existência do e spírito é o amor.  Como um coro individual universal, quase toda criatura comporta e realiza com seu próprio estilo a música mágica que recebeu de Allah na melodia do amor.

No entanto, esta troca de amor da existência humana de uma criatura para outra, tem lugar de uma forma inconsciente, porque a Vontade Divina e a disposição Divina é dominar completamente criaturas que não tem vontade. Nesta perspectiva, pessoas conscientemente participam dessa sinfonia de amor existente, e desenvolvem o amor em sua natureza verdadeira, investigam uma maneira de demonstrar isso de uma forma humana.

Portanto, sem negligenciar o amor no seu e spírito e para o bem do amor na sua própria natureza, todas as pessoas devem oferecer ajuda real e apoio aos outros. Devem proteger a harmonia geral que foi colocada em seu e spírito, ou o  respeito que foi colocado em seu  espírito da existência como uma  lei natural.

No quadro de princípios universais do Islam, a consideração e a idéia de amor são muito equilibrados. Opressores e agressores têm negado esse amor, porque da forma que o amor e a misericórdia mostrados aos opressores os fazem mais agressivos, também os encoraja a violar os direitos dos outros. Por esta  razão, a misericórdia não deve ser mostrada às pessoas que ameaçam o amor universal. A misericórdia mostrada ao opressor é o mais impiedoso ato em relação ao oprimido. O Profeta (sallalláhu alaihi wa sallam) disse: “Ajuda seu irmão (sendo opressor ou vítima. Você pode ajudar o opressor fazendo-o parar de oprimir (os outros).” É possível demonstrar  misericórdia a um tirano se ele parar de agir injustamente.

Notas

1 Hulusi Turgut, Sabah, Março. 23-31, 1997.

2 Eyup Can, “Reaching to the Horizon with Fethullah Gülen,” (Alcançando o Horizonte com Fethullah Gülen), (trans.) Zaman, agosto, 1995.

3 Eyup Can, “Reaching to the Horizon with Fethullah Gülen,” (Alcançando o Horizonte com Fethullah Gülen), (trans.) Zaman, agosto, 1995.

4 Ibid.

5 Ertugrul Özkök, “Hocaefendi Speaks,” (trans.) Hurriyet, Janeiro, 23-30, 1995.

6 Lady Mary Wortley Montague.

7 Nevval Sevindi, “Interview with Fethullah Gülen in New York,” (Entrevista com Fethullah Gülen em Nova Iorque), (trans.) YeniYüzyil, Agosto, 1997.

8 S. Camci and Dr. K. Unal, Tolerance and Atmosphere of Dialogue in Fethullah Gülen’s Writings and Sayings (Tolerância e Atmosfera de Diálogo nas Escritas e nos Ditos de Fethullah Gülen), (trans.) (Izmir: Merkur Yayinlari, 1999), 218-22.

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